Qualquer coisa que eu possa escrever sobre esse assunto, soará como plágio desse livro espetacular, pois sua linguagem é tão próxima dos nossos pensamentos, que temos a impressão de dividir com ele a autoria do livro. Então, escolhi alguns trechos, numa coletânea desses ótimos aforismos. Para quem gosta de questionar a própria existência e os “por quês” das topadas da vida, eu recomendo esse é excelente livro.
“(…)os sábios de todos os tempos sempre disseram o mesmo, e os tolos – isto é, a grande maioria de todos os tempos – sempre fizeram o mesmo, ou seja, o oposto; e sempre será assim. Pois, como diz Voltaire, partiremos deste mundo tão tolos e maus quanto o encontramos na nossa chegada.(…)
“(…)O mundo em que cada qual vive depende principalmente de sua própria interpretação desse e, assim, mostra-se diferentemente a homens diferentes; para um é pobre, insípido e monótono, para outro é rico, interessante e importante.(…)
(…)Assim, quando a metade objetiva é exatamente a mesma, mas a subjetiva é diferente, a realidade presente é tão distinta aos olhos de cada indivíduo (…)Em palavras claras, todos estão confinados à sua própria consciência assim como estão confinados à sua própria pele; logo, a ajuda externa não é de grande valia.(…)
(…)A metade objetiva da realidade presente está nas mãos do destino, que toma formas diversas em cada caso; a metade subjetiva somos nós próprios, que essencialmente permanece sempre a mesma.(…)
(…)os limites de seus poderes mentais fixaram em definitivo sua capacidade para prazeres de natureza mais elevada.(…)Se tais poderes forem pequenos, nenhum esforço exterior, nada que seus companheiros ou que seu destino fizer será suficiente para elevá-lo além do grau habitual de felicidade humana e prazer meio-animais. O que lhe resta são os prazeres dos sentidos, uma confortável e alegre vida familiar, má companhia e passatempos vulgares. Mesmo a educação, no todo, não pode oferecer muito, se é que oferece algo, para ampliar seu horizonte. Pois os prazeres mais elevados, variados e duradouros são os do espírito, independentemente do quanto nos enganamos em relação a isso na juventude; mas tais prazeres dependem principalmente de nossos poderes intelectuais inatos. É óbvio, portanto, o quanto nossa felicidade depende daquilo que somos, de nossa individualidade, embora normalmente levemos em consideração apenas nossa sorte ou destino, apenas aquilo que possuímos ou representamos. Nossa sorte, nesse sentido, pode melhorar; mas, se formos interiormente ricos, não pediremos muito dela. Por outro lado, um tolo permanece um tolo, um estúpido permanece um estúpido, até o fim de sua vida, mesmo se rodeado por houris no paraíso.(…)
(…)aquilo que um homem é por si mesmo, aquilo que o acompanha em sua solidão e aquilo que ninguém pode proporcionar ou subtrair, obviamente, lhe é mais essencial que tudo o que possui, ou mesmo ao que pode ser aos olhos dos outros. Um homem de intelecto, em completa solidão, encontra um excelente entretenimento em seus próprios pensamentos e imaginação, enquanto a contínua diversidade de festas, peças, excursões e diversões é incapaz de proteger um tolo das torturas do tédio. Um indivíduo bom, moderado, brando pode ser feliz em circunstâncias adversas, enquanto outro, ambicioso, invejoso e malicioso, mesmo sendo o mais rico do mundo, sente-se miserável.(…)
(…)Aquilo que um homem tem em si próprio é, portanto, o elemento mais essencial à sua felicidade. Devido a isso, em regra, a maior parte daqueles que estão à parte da luta contra a penúria no fundo sentem-se tão infelizes quanto os que se encontram engajados nesta. O vazio de suas vidas interiores, a obtusidade de suas consciências, a pobreza de suas mentes os levam à companhia de outros homens como a si mesmos(…)
(…)podemos suportar mais facilmente um infortúnio que nos atinge externamente que aquele que criamos para nós mesmos, pois o destino pode mudar, mas nunca nossa própria natureza.(…)
(…)frequentemente hesitamos em deixá-la entrar a alegria, pois antes queremos saber se temos motivos suficientes para estarmos contentes; ou porque receamos ser atrapalhados por ela quando estamos envolvidos em deliberações sérias e cuidados importantes.(…)
(…)Porque, por mais tempo que se viva, não se possui nada mais que o presente indivisível; porém a lembrança perde a cada dia pelo esquecimento mais do que ganha com o acréscimo. Quanto mais se avança em idade, mais insignificantes nos parecem as coisas humanas, por maiores que sejam; a vida que, durante a juventude, estava ali ante nós, firme e imóvel, nos parece agora uma sucessão rápida de fenômenos efêmeros; e se compreende o vazio e o nada das coisas deste mundo.
A diferença fundamental entre a juventude e a velhice sempre será que a primeira tem a vida em perspectiva, e a segunda, a morte; que, por conseguinte, uma possui um passado curto com um longo futuro, enquanto a outra possui o contrário.(…)